Onde estou?...
Acordo no preto, sem enteder o que acontecia... logo pergunto à mim mesmo :
-Onde estou?
Minha voz ecoava pelo infinito da escuridão.
-Você está aqui. Onde mais poderia estar? - uma voz forte, de homem, me responde.
-Quem é você? -questionei-o sem esperar.
-Sou o tudo, o nada, o que você quiser.
-Hm... ok. - concordei, sem muita confiança - Senhor, poderia me dizer onde estou?
-Você está dentro de mim, no tudo e no nada.
-É... como?
-Você não vai entender. Como veio parar aqui?
-Não sei.
-Pois bem, você irá me ajudar.
-Com o quê?
-A criação do mundo, oras.
Espantei-me com as palavras dele. Tentei correr, mas não conseguia me mover, estava flutuando.
-Não
irá conseguir fugir, aqui não é possível caminhar sem pensar. Estamos
onde um mundo surgirá, só lá você pode andar, correr, pular... - a voz
me disse, e nada eu podia fazer a não ser ouvir
-Ok, irei lhe ajudar. Mas o que o senhor quer?
-Primeiro, observe isto.
No preto, surgia um leve brilho. Meus olhos não puderam durar muito tempo por abertos.
Fechei-os e senti a leve luz sumindo, abri-os denovo. Estava lá uma coisa oval.
-Este
ovo é onde viverão nossos seres. Lhe ensinarei como fazer as coisas e
você me ajudará com metade da vida dali. Mas primeiro, como se chamará o
ovo?
-Terra - pensava em solo firme e em minha casa, acabei falando em voz alta sem querer.
-Terra? Ótimo nome. Certo, vamos começar.
-Oi?
O ser, sem que eu pudesse ver - afinal, estava no preto, não via nada - encostou em meu ombro e passou a falar :
-Para me ajudar, preciso que você saiba como fazer a vida, não?
-Suponho que sim, senhor...
-Feche seus olhos.
-Certo.
-Pense em algo.
-Pensei.
-Diga o que é.
-Uma maçã.
-Sabe todas as caracterísitcas?
-Sim.
-O que essa maçã será?
-Uma coisa proibida, ninguém poderá comê-la.
-Por quê?
-Minha mãe me disse que é o fruto proibido.
-Está bem. Abra os olhos.
Uma maçã flutuava diante de meus olhos. Ela brilhava, podendo então eu vê-la.
-Assim
que se faz uma coisa, pense nela com os olhos fechados, pense em todas
suas características e então abra seus olhos. Nada difícil.
Não acreditava no que estava acontecendo, seria um sonho?
-Não é um sonho -disse a voz para mim.
-Como sabe que eu estava pensando nisso?
-Eu criei você.
-Ah...
-Então, gostou da maçã?
-Idêntica à do mundo real...
-Aqui
é o real.
-Verdade.
Calei-me por um minuto, ele também calou-se.
-Ah, esqueci de me apresentar. Sou Marco, prazer.
-Eu sabia. Criei você.
-Isso está irritando, sabia?
-O quê? Minha sabedoria?
-Sim...
Calamo-nos denovo por mais um minuto.
-Pois bem - começou ele -, vou para lá e você fica aqui. Vamos começar a obra.
-Certo.
-Lembrando que não precisa ter pressa, conforme as ideias vêm, você faz.
-Então vou dormir...
-Tudo bem. Só não se espante quando acordar!
-Por que me espantar?
-Vá dormir, vá.
Virei-me e pensei numa cama, ela apareceu diante de mim, flutuando, e eu deitei.